Há centenas de variedades de bambus, mais ou menos rígidas, com origem em todos os continentes à exceção da Europa, mas sempre flexíveis. Ao que parece há pelo menos uma, o bambu chinês, que após semeada, dedica cerca de cinco anos desenvolvendo as suas raízes, tanto para baixo como para os lados, e só após esse longuíssimo período começa a crescer acima do solo. E como o bambu cresce rapidamente, então!
O bambu está cada vez mais disseminado e é cada vez mais utilizado pelo homem, nas mais diversas áreas, desde a química à construção antissísmica de edificações.
É do senso comum dizer-se que “a vida é dura”. Até poderíamos estender este conceito a todos os seres vivos, mas o enunciado é dirigido ao Homem e à sua expressão gregária, a vida em sociedade. Especialmente a sociedade atual, que estrutura e empilha, em espaços mais ou menos pequenos, milhões, dezenas de milhões de pessoas, é muito dura, chega a ser de uma violência tal que pode aniquilar, destruir o indivíduo.
Ainda que se vá ensinando, amparando, prevenindo as crianças, depois jovens, de que os ‘nãos’, as regras estabelecidas e praticadas, as dificuldades que têm que enfrentar na família, na escola, com os amigos e os menos amigos; ou, por outra via mas com o mesmo objetivo, ainda que se permita, proporcione ou mesmo provoque a liberdade de opções, a liberdade de experimentar, para daí antecipar, vivenciar e estabelecer raízes; como é que depois, chegados à idade adulta, mais bem aguentamos os embates da vida, a violência da sociedade, cada vez mais desumanizada, como é que melhor se consegue superar e contornar o choque da força bruta dessa violência?
Voltemos ao bambu, às suas raízes longamente desenvolvidas abaixo do solo e à flexibilidade acima do solo que lhe permite, por mais alto que seja, enfrentar as maiores tempestades mesmo os terramotos. Raízes e flexibilidade são os dados da equação para superar a violência.
Há fenómenos na natureza mais violentos que um terramoto?
Jorge Saraiva