Quando penso em férias, penso num ambiente em que não tenha que pensar em nada do que me faz pensar e repensar, ou seja, a vida profissional, a vida pessoal no que se refere a problemas domésticos do quotidiano, como avarias, contas a pagar, saúde…
Isso existe? Se calhar não. A solução seria sair de nós próprios, pois continuamos a ter a mesma profissão e a mesma vida pessoal quer estejamos aqui ou no outro lado do mundo de férias. Fazer uma pausa de 15 dias, mais ou menos, pode ser utópico apenas.
Pelo que tenho experienciado de férias, dou por mim sempre a pensar no que ficou e, mais ainda, no que terei que fazer quando voltar, no que posso melhorar, o que corre mal e no que posso mudar. Isto é saudável, na minha opinião. Mas até que ponto é que poderemos chamar de férias? Ou serei eu uma trabalhadora compulsiva, algo de crónico? Claro que me divirto nesses dias, fazendo o que normalmente não faço, mas o pensamento está entre lá e cá.
O que me tem mesmo invadido o raciocínio sobre as férias e tempos de folga, tem sido a minha nova teoria de que qualquer manhã, tarde ou hora, pode ser vivida com o sentido de férias. Por exemplo, as horas de almoço, em vez de serem a correr, a pensar que temos que despachar isto e aquilo para o dia acabar mais cedo ou para não deixarmos para outro dia ou para não acumular trabalho (laboral ou não laboral), poderemos vivê-las na totalidade como horas de folga. O primeiro passo seria sair do espaço físico do trabalho, caminhar um pouco, ler algo que nada tivesse relacionado com o trabalho. Se não for possível sair do espaço físico laboral, mudar de posição, tentar olhar para algo diferente que não costumamos olhar enquanto trabalhamos, como as plantas, leituras diferentes… Aproveitar também para conversar com outras pessoas que não sejam colegas de trabalho. Se tal não for possível, falar com os colegas de trabalho que realmente consigam conversar sem ser sobre trabalho.
Tenho lido alguns artigos sobre o empreendedorismo, atitude positiva para o sucesso e liderança e todos convergem para a ideia de nos afastar de pessoas tóxicas. Este adjetivo parece bastante… elitista, mas a ideia que se pretende transmitir é que nos devemos afastar de pessoas e situações que, em vez de ajudar como pretendem, levam-nos para comportamentos condicionados em conformidade com algo que nos faz tensão. Colegas de trabalho que não conseguem falar sobre outro assunto que não o trabalho dão essa tensão se nós não quisermos falar disso. É dessa tensão que temos que tirar férias. É essa tensão que nos faz sentir cansados.
Se encontrarmos forma de aliviar a tensão diariamente, talvez as férias não tenham um peso tão elevado no nosso ano laboral. Talvez as férias sejam vistas como férias e não como o único momento do ano em que podemos aproveitar desalmadamente para descansar, levando-nos ao cansaço. Quantas vezes já ouvimos: “Vou tirar férias das férias…”?
Sónia Abrantes