Apesar de tudo, que bicho-de-sete-cabeças... Acredito mesmo que não exista tema tão antigo e tão transversal (no sentido de veículo garante de continuidade da espécie humana), que apresente tantos desafios e questões.
A heterossexualidade apresenta desafios. Quer a do próprio, quer a do outro (companheiro, amigo, vizinho, filho, pai e respetivos correspondentes femininos). A homossexualidade apresenta desafios. Mais uma vez, quer a do próprio quer a do outro (a juntar aos exemplos anteriores, a comunidade e a sociedade). Da bissexualidade, então, é melhor nem falar. E não se fala tanto desta porque é difícil até de a entender. Será por isso? Não sei... Uma vez alguém me disse, em contexto formativo no âmbito de Psicologia, que a natureza do comportamento sexual humano insere-se no princípio da busca do prazer. Até aqui tudo bem, penso eu e disto ninguém discordará. A masturbação dá-nos prazer, assim como o sexo com o outro. Não esquecer que mesmo para efeitos procriativos o prazer está presente. Tendo por génese o prazer, como elemento orientador do comportamento sexual, não deveríamos então ser nós bissexuais? Mais uma vez, não sei... A Grécia dos sábios filósofos e o império dos destemidos Romanos já lá vão...
O que temos hoje, então? Ou melhor, o que temos tido nos últimos dois milénios, então? Bem, se calhar temos uma “sexualidade judaico-cristã”. Nunca na história da Humanidade, a espiritualidade (e não religiosidade porque esta intrusão não é exclusiva dos correspondentes dogmas implícitos) tanto se imiscuiu no que se passa atrás de portas e por baixo dos lençóis. Infortúnio? Não sei... pela terceira vez. Afinal de contas o que é que eu sei?
1. Sei que a masturbação não cega ou faz crescer pelos nas mãos;
2. Sei que os primeiros a condenar tudo o que seja sexo são frequentemente os da linha da frente da hipocrisia;
3. Sei que nunca se viveu um tempo tão vergonhoso para algumas instituições sociais, educativas e espirituais, no que a escândalos sexuais diz respeito;
4. Sei que coisas como aceitação, equidade e “mente aberta” em relação à diferença normativa, são uma treta pegada (na generalidade da sociedade falando);
5. Sei que os casais gay/lésbico podem ser tão bons ou melhores pais/mães que alguns casais “tradicionais”;
6. Sei que ninguém tem alguma coisa a ver com o que se passa no quarto do vizinho, se o que lá se passar pautar pelo respeito e acordo mútuo;
7. Sei que o sexo e o ato masturbatório contribuem para o bem-estar físico e mental do indivíduo;
8. Sei que a homossexualidade não se apanha com abraços ou cumprimentos;
9. Sei que não deveria ser motivo de vergonha ter um filho gay;
10. Sei que a liberdade de escolha da orientação sexual é, neste país, uma escolha da liberdade;
11. Sei que, muitas vezes, é difícil falar de sexo com um filho;
12. Sei que a descoberta/utilização da parafernália de brinquedos sexuais existente mantém a sexualidade viva e de boa saúde;
13. Sei que se o meu sogro ler isto, não vai achar grande piada;
14. Sei que ter amigos gay não faz de mim cool ou cosmopolita e “aberto”;
15. Sei que ir a um “bar gay” não faz de mim... gay;
16. Sei que os meus filhos terão uma boa educação sexual, livre de preconceitos e informação errónea;
17. Sei que os meus filhos respeitarão a escolha, a liberdade e a individualidade da vida sexual de cada pessoa;
18. Sei que os meus filhos terão o seu espaço para descobrir a sua sexualidade e preferências na mesma;
19. Sei que os tabus sexuais são apenas fronteiras que ainda não foram, quando muito, abordadas;
20. Sei que o DSM IV-TR, da página 535 à página 582, não constitui uma verdade universal e indiscutível do que lá é tratado;
21. Sei que o sexo é BOM!
Rui Duarte