Reflectido na margem de um riacho é possível ver o céu…
Enquanto as nuvens se movem para Oeste, o riacho corre para Este; conseguimos assistir a um desencontro harmonioso.
Fechemos um olho, espreitamos para dentro de um tubo redondo e conseguimos ver o deformar e formar de formas de todas as cores: quadrados verdes dentro de triângulos azuis, hexágonos que contornam uma circunferência vermelha a qual, de repente, se transforma numa pinta rosa e assistimos a uma impossibilidade colorida.
Fitando um espelho procuramos o lado direito de um rosto e afagamos o lado esquerdo de uma imagem reflectida num pedaço de vidro, e verificamos que com facilidade se troca o evidente.
O que não deveria acontecer… acontece, o impossível torna-se no possível e a facilidade numa constante.
As experiências de vida vão-se sucedendo e formando vivências que fazem parte de um percurso que se iniciou com o primeiro berro, mas que apenas ganham consistência no momento em que é possível armazená-las em forma de memória.
A vida flui como a água de uma nascente, seguindo um sentido, mas os sonhos e os desejos não se prevêem e podem, muitas vezes, percorrer o sentido inverso e acontece o que não deveria acontecer, viver uma vida que não faz sentido.
A vontade apenas existe, sem haver regras ou normas para a definir. A vontade faz com que se cometam actos irreflectidos e o impossível tornar-se o possível.
Não! Sim! O que parece mais fácil é evitar o confronto com aquilo com que não se concorda, com o que não se planeia, com o que não se enquadra…
Mesmo que aconteça o que não deveria acontecer, quando nos vemos a viver uma possibilidade que sempre foi impossível, deveremos ter a coragem de esquecer a facilidade e escolher apenas o queremos.
Mesmo que essa escolha se traduza num adeus permanente e num afastamento definitivo.
Susana Cabral