Nos últimos tempos temos assistido, de uma forma algo voyer, a casos ocorridos nas salas de aulas portuguesas, que foram gravados e que posteriormente amplamente difundidos e comentados na comunicação social.
Ora até aí, parece que nada de anormal há neste processo, no entanto e não querendo retirar a gravidade dos casos difundidos, parece-me que por vezes somos muito rápidos nos julgamentos que fazemos dos actores destas tramas e esquecemos toda a envolvência destas situações.
Quando lia o editorial do Destak, da autoria da Isabel Stilwell, não pude deixar de ficar admirado com a rapidez com que colocamos etiquetas às pessoas, tendo por base um determinado momento das suas vidas, como se esse momento espelhasse toda a personalidade e toda a história de uma vida.
Talvez por (de)formação académica não consegui ficar confortável com a etiqueta de mal educada que a referida autora do editorial colou à professora que, por estes dias, anda na boca do mundo (e não, não sou professor, nem para lá caminho).
Posso estar a ser inocente ou ingénuo, mas acredito que por trás das atitudes daquela professora, mais do que má educação ou simples maldade, como alguns também disseram, encontra-se uma pessoa em sofrimento e com um nível preocupante de desequilíbrio psico-emocional. Custa-me crer que aquelas atitudes sejam de uma pessoa que esteja mentalmente equilibrada, pelo que me parece que perdemos demasiado tempo e recursos a julgar aquela professora e pouco a procurar as razões por trás deste comportamento, ou formas de evitar que aquele tipo de comportamentos se repita no futuro.
Num estudo sobre professores ingleses, o autor refere que 77% (sim, 77%) das baixas prolongadas devem-se a problemas do foro psicológico, como irritabilidade, ansiedade, debilidade nervosa, depressão, etc..
Um outro estudo inglês refere que 30% dos professores sofriam de níveis elevados a severos de perturbações mentais, que estavam positivamente relacionados com stress profissional.
Em Portugal, um estudo de 1983 do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa referia que mais de 50% das consultas clínicas se deviam a queixas relacionadas com stress de origem profissional. Mais recentemente, Pinto e colaboradores chegaram à conclusão que da amostra de professores estudada, cerca de 30,4% encontrava-se em elevado risco de atingir um nível pleno de burnout (ou desgaste psico-emocional).
Todas estas referências têm apenas o objectivo de demonstrar que os professores são uma classe profissional muito propensa a sofrer um desgaste físico e emocional extraordinário e que por outro lado é urgente providenciar medidas preventivas para os proteger, evitando os níveis assustadoramente elevados de doenças mentais, protegendo ao mesmo tempo o ensino e acima de tudo a própria integridade física, emocional e mental dos alunos que com estes professores lidam no dia-a-dia.
Alexandre Teixeira
Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 19:57  Comentar