Pensei em escrever-te uma carta em jeito de agradecimento. Conheço-te bem; dirás “não é preciso agradecer coisa nenhuma”. Pois, não será. Ainda assim, é mais do que justo que o faça. És a amiga que há mais tempo tenho na minha vida. Conhecemo-nos há dezanove anos. Partilhámos a infância, a escola, os primeiros inocentes amores, parte da adolescência. Brincámos juntas, eu, tu e os nossos irmãos que, tal como nós, têm a mesma idade. Fomos crescendo, sem percebermos que não eram os sapatos de tacão alto da minha mãe que nos engrandeciam, apenas a força imparável do tempo. O mesmo que parecia arrastar-se, trocista, quando éramos crianças e que, agora, corre veloz e impiedoso. Parecíamos ligadas por um fio invisível que nos conduzia sempre ao encontro uma da outra, o porto seguro, o afecto que nem precisava de palavras. Tal como sempre foi, não partilhamos a mesma perspectiva sobre almas, afectos e atitudes. No entanto, sei que isso não diminui a força do sentimento que nos une. Os nossos caminhos separaram-se na cadência do dia seguinte e dos diferentes sonhos que perseguíamos.
Esbarrámos uma na outra alguns anos depois. No reencontro, a partilha dos anos de ausência: a dor, a angústia das memórias ainda frescas. Foram anos difíceis os que não vivemos juntas… Foste tão importante para mim. Até te reencontrar, achei que não voltaria a confiar numa mulher. Pensei que, amiga, era uma palavra que doravante me traria apenas tristeza e insegurança. Medo. Estava tão magoada…E apareces tu no meu caminho para me relembrares que há quem conserve valores inabaláveis na amizade. Para me mostrares que é possível confiar plenamente numa amiga, apesar das desilusões que possam chegar, aqui e ali, ao longo da vida. E és tão grande que abriste caminho a outras pessoas fantásticas que hoje deixo que me toquem o coração.
É possível viver sem medo da própria sombra. Agora eu sei, graças a ti.
Alexandra Vaz