Não considero que existam verdadeiramente idades maiores e menores. Acredito em idades comparativas, sujeitas ao escrutínio do tempo, que é universalmente igual para todos. 34 anos no meu cartão de cidadão serão iguais aos 34 anos de outra pessoa qualquer. Contudo, facilmente se compreende que os meus 34 anos não serão em nada iguais aos de outra pessoa. Porque são os meus...
Passado
A minha primeira idade maior foi quando nasceu o meu irmão. De repente tornei-me no mais velho, logo, o maior. Depois tive outra idade maior quando entrei para a pré-primária. Já era “grande” o suficiente para ir para a escola e tomar contacto com as primeiras situações extra-casa dos avós e carinho dos mesmos. Quando dei por ela, surge outra idade maior, ou seja, a entrada na 1ª classe e a responsabilidade das aulas “a sério”. Seguiu-se a idade maior do ciclo, a do liceu e aquela que terá tanto de fantástico como de terrível... a escolha do curso que nos transformará noutra pessoa que terá obrigações importantíssimas, não só para a família, mas agora também para a sociedade. Claro que pelo meio existiram outras idades maiores, como a idade maior para receber uma mesada, a idade maior para começar a fazer o bigode, a idade maior para sair com os amigos, a idade maior para a carta de condução, a idade maior para votar, a idade maior para os primeiros beijos e a idade “muito maior” para a primeira experiência sexual. Aquela que será porventura a idade maior mais assustadora e desconhecida, a parentalidade, surgiu de forma inesperada e abrupta. Contrariamente, se calhar, à maioria dos casos, ela deu-se antes de outra idade maior muito importante, como é a do primeiro emprego. De repente parece que se esgotam as idades maiores e a vida estabiliza. Deixam de te tratar por tu e progressivamente dirigir-se-ão a ti por senhor...
Presente
Vivo numa idade maior que vai crescendo. Ou seja, hoje tenho 34 anos, filhos, emprego, responsabilidades. Lá para o final do ano terei exactamente a mesma coisa, mas com 35 anos.
Futuro
Tenho algumas ideias do que será a minha idade maior no futuro. À falta de uma palavra melhor, direi que a tranquilidade se apoderará de mim. Serei mais ponderado, calmo e olharei a vida certamente de outra forma. Começarei a dar importância a coisas que neste momento não têm, e começarei a menosprezar coisas que neste momento são muito importantes. Virá a idade maior da expectativa pelos sucessos profissionais e pessoais dos filhos, das dores nas costas ou noutro lado qualquer, a idade maior do exame à próstata, do colesterol e etc.. Virá a idade maior da revolta em relação à idade da reforma e ao valor da mesma. Em relação à juventude, barulhenta, rasca e incompreensível. A idade maior da ansiedade pelo nascimento de netos e, posteriormente, da ansiedade pela quantidade de anos que passarei com eles. Nessa altura, de pouco me importará por quantas idades maiores já terei passado. Gostaria contudo de poder dizer que fui o maior nessas idades.
Rui Duarte