É próprio da condição humana encontrar sentido em tudo o que se faz. Para além disso, e como reforço, somos maioritariamente educados nesse sentido, ou seja, que fazer algo sem sentido, não faz sentido nenhum. Assim, a vida, tal como todas as outras coisas que são finitas (na nossa vida), carece também ela própria de sentido. Porém, contrariamente a muitas outras interrogações que têm todo o sentido de serem feitas, esta apresenta-se assustadoramente próxima de indefinição conclusiva. Claro que existe quem advogue uma resposta a esta perturbadora inquisição - mesmo que por vezes a iluminada declaração não faça qualquer sentido...
Penso ter a concordância de todos quando afirmo que ninguém sabe qual é, inequivocamente, o sentido da vida (enquanto interrogação existencialista, universal e transversal), mas que todos os que alguma vez se questionaram (ou foram questionados) sobre o assunto têm (ou tiveram) forçosamente uma opinião. Mesmo os que remetem esta desumanamente angustiante interrogação à insignificância cognitiva e emocional respondendo com um “sei lá”, “não faço ideia”, “não me interessa”, ou “quero lá saber”, estão no fundo a vocalizar um mudo “para mim não importa encontrar sentido na vida, porque não é fundamental fazê-lo para continuar a viver a minha vida como o fiz até aqui e como vou fazê-lo de futuro. Logo, não existe sentido na vida porque para mim ela sempre existiu e continuará a existir. Não preciso de sentido para viver”.
Contudo, experimentando questionar o sentido biológico da vida, facilmente chegamos a respostas. Do nascimento à morte, é sempre sentido único. Se experimentarmos questionar o sentido profissional da vida, também chegaremos (mais dificilmente é certo) a respostas. Do primeiro emprego à reforma, é sempre sentido único. Se experimentarmos questionar o sentido religioso da vida, também chegaremos (muito, mas muito mais dificilmente) a respostas. Da rectidão à recompensa, é sempre sentido único. E continuamos por ai fora, mesmo ao ponto mais redutor: do nada ao nada, é sempre sentido único.
Faz então algum sentido procurar sentido na vida? Da forma como foi apresentado este tema acho eu que não. Acho que faz sentido trocar a palavra “sentido” por “objectivo” e mudar a questão para “o objectivo da vida”. Porque, qualquer que seja a abordagem a ter, biológica, profissional, religiosa ou mesmo a do “nada” remete-nos para um “closure”, um “descer do pano”. Faz então sentido termos objectivo (s) na vida? Agora sim, faz todo o sentido. Faz então sentido procurarmos noutros o sentido da nossa vida? Faz, se estivermos desorientados. Porque a mim me convém, a isso chama-se psicoterapia.
Rui Duarte