Jeremias nasceu no campo, numa aldeia. Brincou o mais que pode nas terras, nas árvores, no rio da sua aldeia e, nas horas vagas, frequentou a escola com todos os meninos e meninas com os quais tinha nascido. Depois teve de mudar de escola, para uma maior que ficava na cidade mais próxima. E depois mudou-se para uma cidade ainda maior, com muitas escolas, ainda maiores. E quando chegou à idade de trabalhar, lá conseguiu emprego e por ali ficou, longe da sua aldeia.
Quis ganhar mais dinheiro e ter novas experiências e então partiu para outro continente. Quando se cansou, voltou à cidade grande.
Desde que deixou a sua aldeia, procurou um sentido para si, para a sua existência, para a sua vida. Pensou muito nisso e mais procurou. Se o colocaram aqui, fora certamente para alguma coisa. E como ninguém lhe pediu vontade ou opinião, quem o colocou teria certamente uma ideia, um sentido para a sua vida. Mas quem o colocou aqui? E qual a ideia que tinha para ele? Como conseguiria ele descobrir esse sentido que alguém lhe deu, mas não o informou?
Ao longo do tempo alegrou-se por diversas vezes quando sentiu ter descoberto o tal sentido. Mas todas essas descobertas acabaram por revelar sentidos proibidos, sentidos únicos e sem retorno, becos sem saída, caminhos sem qualquer sentido.
Mas Jeremias lá foi andando, fazendo a sua vida dia-a-dia, como quase todas as pessoas.
Quando já estava velho, concluiu que a sua vida fora gasta a tentar encontrar o sentido, o tal que alguém definira para ele. E só pôde tirar uma conclusão: a vida não tem sentido; se tivesse sentido, tê-lo-ia certamente encontrado. E ficou com uma tremenda angústia – o que perdeu ao longo da sua vida enquanto procurava um sentido para ela? Mas já era tarde…
Fernando Couto