
Quero… quero mesmo viver a minha vida virtual…
Que piada tem esta minha vida sem sal: casa-trabalho, trabalho-casa; relação já sem sentido, filhos que não me dão valor; dinheiro curto e poucas possibilidades de mudar…
Nos jogos realizo-me: casa grande, relações fáceis, trabalho o que eu quero, como quero e quando eu quero, tenho filhos ao fim de alguns minutos e, caso eles “desapareçam” consigo não sofrer.
Passo horas a criar realidades que gostava de ter/ser… Passo horas, dias e meses alheada nesta vida tão boa que me faz deixar a minha à espera… Deixo de viver realmente para viver virtualmente. E custa tão menos…
É fantástico conseguir assistir ao nascer, desenvolver, relacionar, trabalhar, envelhecer, morrer sem sofrer… tudo em questão de horas… É fantástico poder andar com o tempo para frente naquelas horas “mortas”: horas em que se dorme, horas de trabalho…
E importa suprir as necessidades: fisiológicas básicas, de segurança, social… tudo direitinho como na pirâmide de “Maslow”… É simples e fácil! Sem ilusões ou complicações, tudo se desenvolve da forma que eu quero…
E o físico? Fantástico! Nunca gorda ou “celulitosa”; sempre em forma e apetitosa! Looks variados, olhos e cabelos de cores não reais, guarda-roupa sem limite monetário e de criatividade! Magnífico!
Posso? Posso deixar de viver a vida e afundar-me no virtual? Posso?
Mas será que isso é viver? Ou sonhar? Ou simplesmente alhear?
Ana Lua