A palavra “vencedores” não fazia parte do meu vocabulário quando era pequena. Era gordinha, usava óculos e me interessava mais por livros que por brinquedos. Sendo assim, meu destino nos jogos estava decidido. Na hora de montar uma equipe, eu era aquele elemento que ninguém queria, não era boa nos esportes também, ficava então destinada a equipe dos “perdedores”, o lado do time a que ninguém queria pertencer.
Eu ficava assistindo, do outro lado, aos “vencedores”; eram em geral os melhores alunos, bons no esporte e com uma aparência bem diferente da minha.
Ficava claro ali o meu lugar, onde eu pertencia. Talvez por isso eu não desenvolvi nenhum espírito de competitivo; do que adiantaria se eu não seria chamada para jogar no time dos vencedores?
Mas o que é lixo na infância vira ouro na vida adulta. Graças a minha paixão pela leitura conheci outros mundos, outras vidas. E por não ter me desenvolvido como uma pessoa competitiva, aprendi a dar valor a todos, a cada um, já sabendo que não, ninguém é igual a ninguém, e talentos muitas vezes ficam escondidos.
Por não ser do time dos vencedores na infância, na vida adulta virei do time dos que pertencem a tudo e a nada. Nunca me confiei em nada, sabia que não seria escolhida, então resolvi me escolher.
Sempre escuto aquela frase de “o que não mata fortalece”, frase nobre, mas na realidade, antes de fortalecer, pode machucar muito. Por ser sempre ignorada nos jogos, sofria de muita solidão, coisa que me serviu na vida adulta - conheço bem os caminhos de uma alma solitária.
Não sei se a palavra “vencedores” um dia fará parte de meu dicionário, porque continuo sem acreditar nela, para que isso fosse possível então eu teria que acreditar que existem “perdedores” e não acredito nisso.
Cada um tem seu tempo, seus motivos e seus dons; com quem vamos competir se não somos todos iguais? Eu só posso competir comigo mesma e nem assim me parece interessante fazer isso.
Já não perco nem ganho, apenas vivo. O que me feriu de criança, me fortaleceu de adulta, não sou uma vencedora, mas também não sou uma perdedora. Vou pela vida, fazendo meu caminho, tecendo minhas redes. Não olho para o time da frente, nem para o meu, aprendi que o melhor mesmo é se divertir no meio do caminho, porque o jogo acaba cedo demais para todos. E não fica quem venceu, nem quem perdeu, todos vamos embora um dia, talvez essa seja uma coisa real, não adianta competir, um dia todos nós vamos perder para a vida.
Iara de Dupont (articulista convidada)