
Na minha opinião, há dois tipos de pessoas: as pessoas que vencem e, bom, todas as outras. Há quem diga que é tudo uma questão de perspetiva, até porque vencer não é necessariamente chegar em primeiro lugar ou saltar mais alto. Há outras metas cumulativas que por vezes se atingem e que, por outras, ficam por atingir, tal como bater o record mundial de velocidade ou saltar alto sem recorrer a substâncias dopantes. Eu não concordo! Há, de facto, vencedores e vencidos. E esta dicotomia é absoluta, superior a qualquer referencial.
Vencer é a consequência de um conjunto articulado de atos. Mas é, também e antes de tudo, a projeção de um resultado e a engenharia daquele conjunto de atos. Movemo-nos sempre, em qualquer circunstância, no sentido de obtermos um resultado favorável. É uma questão de instinto. É uma caraterística que não nos distingue das outras criaturas. Todas as nossas ações, desde as mais simples às mais rebuscadas, encerram sempre a secreta ou declarada vontade de obtermos lucro e colhermos dividendos. E só há duas formas de perseguir esse objetivo: agindo e agindo de forma correta.
Se levantarmos um olho do nosso umbigo, conseguimos reconhecer imediatamente dois ou três vencedores: ou porque marcam golos, ou porque treinam bem, ou porque dão três saltos seguidos, ou porque representam bem o nosso ego lá fora, ou porque servem de extensão de nós mesmos, projetando a nossa ancestral e persistente vontade de obtermos sucesso, sermos reconhecidos e perpetuarmos o velho estigma de descobridores. Mas se levantarmos os dois olhos, identificamos facilmente uma mão cheia deles, que não só obtiveram sucesso fora do circuito bélico (do futebolístico e do puramente desportivo), como também é provável estarem bem perto de nós. Não me refiro apenas a excelentes cirurgiões, a lucrativos gestores ou a prodigiosos pensadores. O meu aplauso vai para todos aqueles que têm a coragem de fazer melhor, que se reinventam todos os dias no sentido de se despirem de hábitos inibidores do progresso, que concedem à lamentação o espaço e o tempo estritamente necessários, que arregaçam as mangas, que se importam e fazem a diferença.
Vencer é muito mais do que dominar, ultrapassar ou enriquecer: é resistir, insistir, aprender e superar. Vencer, mais do que numa competição com outros, é superarmo-nos a nós mesmos, é aprendermos com os nossos erros e acertos, é insistirmos as vezes que forem necessárias e é, sobretudo, a capacidade de resistirmos às dificuldades.
O que distingue o vencedor do vencido é mais a capacidade de resistência do que qualquer outra competência. Até porque a vitória é o produto acabado de uma série de derrotas intermédias - um golo só surge, regra geral, depois de algumas bolas ao lado. A derrota só acontece quando se desiste a meio caminho, sem que tenham sido esgotadas todas as hipóteses para se atingir a meta inicialmente traçada.
Na vida, no geral, os vencedores são todos aqueles que assumem objetivos, definem ações e se imbuem de uma dose industrial de resiliência. Esta última é absolutamente seletiva!
Joel Cunha