Está tudo silencioso agora
Daqui avisto o horizonte e as estrelas
Estou sentado no topo do mundo
Por mais que tente, não consigo chorar
Conto os meses e os anos
Que passam como segundos
Já não sei quem sou
Já me esqueci quem fui
Ergo este copo a ninguém
E a dúzia seguinte também
Nem nada nem ninguém, assim é
Por esta janela vejo tudo turvo
Um pássaro interrompe o silêncio
E desço a pistola agora
Respiro fundo e suspiro
Acendo o último, desta vez o último
(É sempre o último há meses, há anos
Mas não é, nunca é)
Daqui avisto tudo e não vejo quase nada
Não há nada nem ninguém aqui
Neste corpo só moro eu
Somente eu, ninguém
Joel Cunha