Foto: Cuplu Tineri In Parc – Catalin Berciu
- Quanto tempo tens?
Olhou pela janela e esboçou um sorriso. Não fugia daquela pergunta. Apenas não lhe fazia qualquer sentido.
- Quanto tempo te resta? - insistiu.
- O mesmo que a ti - respondeu, olhando-o profundamente nos olhos.
- Estás a brincar com isto?! Estás maluca? Isto é muito sério!
- Não. Resta-me o mesmo tempo que a ti. Acredita que não brinco.
Sentia-se confuso. Baralhado. Revoltado. Angustiado. Sentia que a perdera, mesmo antes do tempo findo.
- Vou falar com o médico. Não quero saber se me escondes a verdade. Vou descobri-la a todo o custo. Não me podes negar isto. Depois de toda a nossa vida.
- Não te nego nada. Resta-nos o mesmo tempo.
Saiu furioso. Na sua fúria apenas residia o medo da perda. De não poder tê-la para sempre.
Olhou de novo pela janela. Conseguia ver o horizonte dali. Mas nada mais, para além dele. Embora tal não significasse que para além daquele horizonte não houvesse mais céu, mais mar. Há sempre mais para além do que a tua vista alcança. No entanto, aquele horizonte só prometia fim, a partir daquela janela.
Voltou esgotado. Triste. Semblante pesado. Encontrou-a serena. Tal adormecida. Embora apenas descansasse a vista do horizonte. Ao vê-la assim, cândida e serena, sentiu a sua paz e sorriu. Aquela dor que o dominara, estancou por um momento.
Devagar, ela abriu os olhos cerrados e devolveu-lhe um olhar com vida. Voltou a sorrir-lhe. Disse-lhe:
- Resta-nos o mesmo tempo, meu amor. O tempo da nossa vida. Este, só este que temos. O tempo que temos até ao fim. Juntos. É o mesmo tempo. O nosso tempo! Disfrutemos como disfrutamos do pôr-do-sol. Ele põe-se no horizonte. É lindo observá-lo assim. Mas, morre na noite. Pensamos que é morto para sempre. Mas, sempre renasce. Sempre permanece. Assim é o nosso amor. Para sempre. Mesmo que não me vejas, estarei contigo. Em cada novo dia da tua vida. O nosso amor é o nosso tempo, disse, enquanto uma lágrima lhe molhava o sorriso.
Cecília Pinto