Foto: Despejando Cerveja – Petr Kratochvil
Duas horas e meia de sono na noite anterior e o torpor adensa-se. Os olhos querem fechar mas estou num país estranho. Por um qualquer motivo, até para mim indecifrável, sentei-me na esplanada de um bar. O dia está a fechar e os ingleses, vermelhos, começam a jantar. Para mim, latino, é cedo. Demasiado cedo. Para comer ou ir dormir.
À minha frente tenho uma mesa para quatro, mas estou só.
A cerveja local, de um litro, engole-me a visão, aliada a esse cansaço que me transporta para a semiconsciência.
Reparo num canteiro que tem uma árvore. Sofre com a poluição de uma zona balnear famosa. No seu centro a árvore não abana com a brisa gentil. Passa um Opel Corsa e as plantas vergam.
Dou-me conta que passou um momento único na minha vida. Precioso por isso mesmo, mas inútil daqui por uns minutos.
A vida é isto mesmo.
Coisas que não se repetem, e que na maior parte das vezes não valem nada.
A não ser que não tenhas dormido.
E que o álcool ajude.
Rui Duarte