Foto: I Can Not Speak – George Hodan
Medo que grita sem voz.
Medo, medo, medo.
O medo em silêncio é o que mais destrói e corrói.
Medo de verbalizar o medo que o coração já sente e que o corpo sofre.
Medo que não sai da cabeça. Que mói e que dói.
A angústia, a dúvida, a incerteza que é já uma certeza, mas que enquanto não ouvimos na voz parece doer menos.
Ilusão. Engano. Mentira.
Está tudo lá e ela sabe disso. Só finge não saber.
Medo de assumir, medo de se ouvir. Ouvir o que toda ela já sabe mas a quem o medo impede de falar, porque não quer acreditar. Porque não pode ser possível. Porque não pode ser verdade. Porque falar é assumir, enfrentar, e no silêncio mora a ilusão de que nada se passa.
Nem à mãe, nem à irmã ou melhor amiga. A ninguém. Guardar, fechar, tentar matar dentro de si o que há muito vive na pele, dos pés à cabeça, de noite e de dia, no sono e sem sono que insiste em não vir.
Falar é morrer de pressa. É confrontar-se. É tornar real o que já o é, mas que finge não ser.
Que se fale sempre. Porque morrer devagar e por dentro é matar-se sem morrer.
Já o morrer por fora, gritando de viva voz o medo que dói e a dor que destrói, ajuda ao fim da dor, que com o tempo há de sarar.
E em cada fim há sempre a esperança de um renascer.
Joana Pouzada