Foto: Parents and children - Kisss
(Sei de Anjos que, apesar de condenados a viver na Terra, nunca perdem as asas nem a inocência)
Deficiência: não há modo “soft” de colocar a coisa - a palavra grita-nos, sibilante, o seu significado perfeitamente lato e negativista. E ninguém se furta à sibilina carga de preconceito que ela acarreta, sobretudo pelo medo que todos temos que um filho, um descendente, alguma criança, enfim, do nosso círculo mais estreito de afetos, nos nasça com um qualquer grau de imperfeição ou deformação física ou mental. Ninguém. Todos os pais, todos os parentes de futuros pais, mais ou menos serenamente, contornam esse receio, nem que seja pelo lado mais doce, confiante e otimista: “Menino ou menina?” – “O que se quer é que venha perfeitinho...”
E saudável. E que a mãe tenha uma hora pequenina. O resto não importa. Que venha perfeitinho, é o que todos queremos.
“E o que é a perfeição?”
Perfeição, no seu sentido imperfeitamente real e positivista, é ter as proporções consideradas normais e todos os órgãos no seu devido lugar e a exercer com precisão as funções físicas e mentais para que Deus as concebeu, quando nos programou.
Perfeição, no seu sentido mais transcendente, é nascer com a capacidade de se exceder. De ir além. De ver mais longe, mais fundo. De amar melhor. De superar barreiras. De vencer guerras e preconceitos. De ser forte. De sobreviver. De ser feliz.
Ser perfeito é dar-se por inteiro, em inocência e candura, à paixão por quem lhe aceita a imperfeição. Ser perfeito é ter nos olhos um amor desmedido e toda a confiança do mundo em quem lhe ampara a deficiência.
Ser perfeito é receber nos braços a Dor, e transformá-la em Amor. Ser perfeito é ter a ventura de descobrir o quanto é forte, o quanto é poderoso, o quanto é superior a todos os preconceitos do mundo.
Não é a todos, que é dada a oportunidade de descobrir o tesouro de Fé e de Força, escondido em si desde que nasceu - e o Amor, todos sabemos, não reconhece imperfeições nem deficiências físicas. Basta que conheçamos uma mãe “perfeita” ou um pai “perfeito” de um filho “imperfeito”. Basta que perguntemos. Basta que observemos: Há uma bênção maior, que os nossos olhos não reconhecem, mas que o nosso coração sente: não existe “deficiência”, para quem ama, existe apenas “diferença”. Não existem seres incapazes, existem seres especiais. Excecionais. E infinitamente capazes de amar além de todos os conceitos humanamente reconhecidos.
Teresa Teixeira