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“Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem
E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,
E passa para o outro lado da minha alma...”
Fernando Pessoa
Sem bluff, ver logo a pessoa como é. Através dos gestos e palavras. Talvez mais do que faz e, se calhar, nem tanto como o faz. Talvez o que não faça e, nesse instante, o silêncio que estilhaça. Ver uma serenidade ou a indecisão que toma conta desse estar.
Uma terra que se sente revolvida à espera de ser cultivada. Os frutos e as plantas. Tomilhos e flores de borragem.
Contar contigo porque me dizes o que pensas a cada momento, ver essa liberdade, senti-la como partilhada comigo e podendo eu também respirar desse teu estar de cabelos soltos. Permitir-me deixar ir contigo.
Perguntar como será ser e estar assim de um modo simples, direto e quase desarmante, ser o que se é e como se sente.
Por vezes, atento sobre as amarras de uma invisível embarcação, como se se tratasse de um “navio de espelhos / não navega, cavalga” do Cesariny. E, nesse navio de espelhos, deambulamos por entre os fios de ouro envoltos em brumas e névoas ou quando o sol aparece, pelo ar que transpira das janelas que não conhecíamos encerradas, do lado de dentro.
Abrir os meus olhos ao outro e, nesse encontro, exalar uma mesma música que soa, de mim para ti. Chegando mesmo ao outro lado.
Maria João Enes