Foto: Woman - Alexandr Ivanov
“Queria, queria
Ser igual ao peixe
Que livre nas águas
Se mexe”
Pedro Homem de Mello
Um dia, chegando a casa, senti que estava pela primeira vez a entrar num mundo novo. Mesmo que já lá morasse há um ano, aquele espaço não seria pisado por ele e tudo bem, não vinha nenhum mal ao mundo. Como se me encontrasse no agora, com esta nova pessoa que eu sou. Uma paz que assoma por dentro banhando as paredes e enchendo, enchendo e enchendo devagar até transbordar.
Como respirar quando tudo arde e pesa o ar cá fora?
Séneca, na sua ideia de viver de modo desapegado do prazer e sem medo da dor, não seria a chave do mistério. Há um conforto que nos transmite segurança, confiança, pontos de referências no que é familiar e rotineiro como o primeiro café da manhã.
Andamos na vida por vezes mais perdidos do que sei lá o quê, e nisto um dos corrimãos desaparece e caímos. Com poff!! e tudo.
Infinitamente rápido é o movimento do tempo, como se vê mais claramente quando se olha para trás. Pois quando estamos atentos ao presente, não o percebemos, tão suave é a passagem do tempo ao ir pelo dia afora.
A linguagem da verdade é simples. Quando nesse encontro mais silencioso nos deparamos a um espelho que não se parte ou distorce, aí aquietemos para ouvir esse ribeiro que murmura há já muito tempo: gosta muito de ti.
Maria João Enes