Foto: Classical-music - Pexels
Não...
(pois, sei, estamos a começar mal; num texto, uma apresentação, uma ideia a começar pela negativa, é fraco sinal, pouco cativante, se cativar...)
O que eu quero dizer é que o simples, a simplicidade, não é um começo, deverá ser um fim, um objetivo a atingir. Dizer, pensar, fazer as coisas simples, de uma forma o mais simples possível. Sem facilitismos, sem complicações que, se calhar, serão tão só um meio de impressionar, mesmo distanciar.
Fixemos então, já aqui e agora uma conclusão parcelar. Ser, fazer, dizer simples não é o mesmo que ser fácil. Redutor, simplista, imediatista. Atingir a simplicidade é um processo, bem trabalhoso porventura. É preciso desbastar muito, depurar, retirar gorduras supérfluas, pouco saudáveis.
Para se ser simples no resultado é precisa muita complexidade, muito conhecimento, muita técnica e muita arte.
Fácil de perceber e de ouvir: para onde nos leva a simplicidade aparente dos primeiros acordes da Quinta Sinfonia de Beethoven - tan, tan,tan, taaam? Que emoções profundas, arrebatadoras, nos envolvem ao ouvir as primeiras notas da Lacrimosa, do Requiem de Mozart?
“Amor é um fogo que arde sem se ver”, de Luís de Camões, para onde nos leva este primeiro verso do soneto, para que memórias, pessoas, circunstâncias?
Aliás a poesia será o cúmulo da forma da escrita, o processo em que com menos se consegue mais. Emoção, sentimento, ideias.
Não somos todos geniais, evidentemente, não podemos, a generalidade das pessoas, ambicionar produzir obras primas.
Podemos e devemos, todos, ambicionar atingir a simplicidade, questionarmo-nos sobre isso. Sem facilitismos, sem complicações desnecessárias, com dádiva e entrega.
Como um serviço. Humilde.
Jorge Saraiva