“A admiração é uma súbita surpresa da alma, que a leva a considerar com atenção os objectos que lhe parecem raros e extraordinários. Assim, é causada primeiramente pela impressão que se tem no cérebro, que representa o objecto como raro e, por conseguinte, digno de ser muito considerado; em seguida, pelo movimento dos espíritos, que são dispostos por essa impressão a tender com grande força ao lugar do cérebro onde ela se encontra, a fim de fortalecê-la e conservá-la aí (…).”
Embora a admiração não produza efeitos em outros órgãos além do cérebro, isso não a impede de ter muita força.
“No que consiste a força da admiração.
O que não a impede de ter muita força por causa da surpresa, isto é, da súbita e inopinada ocorrência da impressão que modifica o movimento dos espíritos, surpresa que é própria e articular a esta paixão; de sorte que, quando se encontra em outras, como costuma encontrar-se em quase todas e aumentá-las, é porque a admiração está unida a elas. E a sua força depende de duas coisas, a saber, da novidade e do facto de o movimento que a causa possuir, desde o começo, toda a sua força (…).”
A surpresa é assim um elemento psicológico essencial na admiração, mas esse elemento pode levar a excessos, como no caso do espanto:
“O que é o espanto.
(…) e o espanto é um excesso de admiração que só pode ser mau.”
“Para que serve particularmente a admiração.
E pode-se dizer particularmente da admiração que ela é útil porque nos leva a aprender e a reter em nossa memória coisas que dantes ignorávamos; pois só admiramos o que nos parece raro e extraordinário. (…)”
“No que ela pode prejudicar e como se pode suprir sua falta e corrigir seu excesso.
Mas acontece muito mais admirarmos em demasia e nos espantarmos ao perceber coisas que merecem pouca ou nenhuma consideração, do que admirarmos demasiado pouco. E isso pode subtrair inteiramente ou perverter o uso da razão.”
Zita Sousa
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