Parece mentira, mas não é: nascemos com a morte anunciada. A experiência da perda é dolorosa. Qualquer perda. O desapego necessário a uma vida equilibrada demanda muitas mortes em vida. Mas o luto não tem de ser sofrido, daí que há culturas em que celebram alegremente a morte de alguém. Contudo, não podemos renegar o peso milenar da tragédia da morte. Depende da história de um povo e do seu desenvolvimento espiritual a dimensão dada à morte. Mas suprimir as emoções que surgem da experiência do “fim frustrado” não permite assentar, assimilar e transmutar as memórias afetivas na relação com o objeto perdido.
A lacuna no senso de discernimento das realidades combinada com uma certa desinteligência afetiva, ou se quisermos, emocional abre espaço ao queixume, à mágoa, ao arrependimento na hora da perda. Uma negação da própria vida?
A certeza da perda, omnipresente, deveria suscitar em nós o aproveitamento máximo da oportunidade de viver.
Marta Silva