Foto: Man - Photosforyou
Começo a escrita sob a nuvem de uma semana profissional complicada. Com certeza um arranque auspicioso quando o tema proposto é a simplicidade. Confesso que o deadline para a entrega do texto já foi largamente ultrapassado, mas com toda a honestidade, apenas ontem me apercebi de tal facto. Simplesmente resta-me pedir desculpa.
Desde ontem à noite, assaltado pela culpabilidade de quem não cumpriu, revi os ângulos possíveis de abordagem ao tema, tendo-me rapidamente apercebido que as hipóteses seriam:
a) de caráter pessoal, que incidisse na vivência da última semana;
b) de caráter geral, até mesmo ficcionado, que incidisse em quê ???
Pois… nada simples…
A hipótese a) rapidamente ficou fora do horizonte descritivo atendendo que a primeira frase que se colou imediatamente à ideia foi: “se não tens nada de bom para dizer, mais vale estares calado”. Podia, claro, simplesmente borrifar-me para as consequências das palavras escritas e utilizar este texto como um veículo de catarse, mas todos sabemos que na suposta era da Liberdade Individual nunca antes estivemos tão escrutinados. É complicado… Aproveito aqui a oportunidade para agradecer à minha esposa a solidariedade e compreensão demonstradas na escuta ativa do que levei para casa. E, já agora, perdoa-me os palavrões utilizados que ilustraram e deram cor à minha revolta e frustração. Podem ser artifícios linguísticos básicos, mas na verdade simplificam com crueza a categorização de certas coisas. E assim, dessa forma, todos nos entendemos.
Restava-me a hipótese b) e aqui apresentou-se a segunda dificuldade. “Keep it simple” e partir daí. Mas, sinceramente, quantos textos de treta existem vangloriando uma existência mais “despegada”, “em contacto com o interior”, com menos “pegada ecológica” e blá-blá-blá?
Invariavelmente, o quadro profissional invadiu o pensamento, alicerçando-se numa dicotomia eu vs. outro. Nas simplicidades e dificuldades da minha vida, comparativamente às simplicidades e dificuldades da vida de terceiros. Mas, muito honestamente, não irei por essa via, principalmente por duas ordens de razão: já demasiadas vezes escrevi acerca da deficiência / incapacidade e ninguém aprecia um tipo chato e repetitivo. E, mais importante ainda, devido à convivência recente com pessoas que têm tido o condão de me fazer pensar acerca da diversidade funcional, não sinto segurança (ou justiça) na minha opinião acerca de tal juízo comparativo. Ficou registada a frase “nada sobre nós, sem nós”. Fica a promessa: se algum dia escrever sobre tal tema, será com coautor.
E assim, analisadas as hipóteses que tinha, cheguei a conclusão que serve o imediato. Face ao tema que propuseram, simplesmente decidi não escrever.
Rui Duarte