Foto: Person - Petra
Podemos até saber o que queremos da vida, mas nunca o que esperar dela, tal como daquele colega de carteira meio incerto, que nunca percebemos se é mesmo nosso companheiro, ou se pela calada faz queixinhas de nós à professora, o mesmo que nunca sabemos se nas brigas nos vai defender ou ajudar a bater.
Deixa-me ser a miúda das tranças que te sorri com ternura, e cúmplice, te pisca o olho enquanto levas a reprimenda da professora, que te ajuda a tratar as feridas depois do pugilato com o Gudas do 9.º ano e ainda diz que da próxima vez é que vai ser! Ah, pois vai! Da próxima vez vamos fazer a folha ao Gudinhas!... Ideias que acalentamos naquele espaço do nosso coração em que a nossa criança interior ainda tem voz. Porque às vezes me fazes sentir assim: leve e sorridente, como uma miúda.
Seria bom se a vida se fizesse apenas de dança, sorrisos e afetos… Mas não, às vezes parece que faz até questão de nos atormentar e de não deixar que nos sintamos tranquilos. Nem felizes. Como se ser feliz não fosse vencer na vida, mas sim vencer à vida.
No entanto, essa mesma vida castrante que tão má sabe ser, acaba por nos trazer um punhado de coisas boas, que ficam, que amaciam e adoçam o caminho… Mas não as dá de mão beijada: há que saber segurá-las de mão firme para nada se esvaia entre os dedos. É onde te seguro: na palma, de encontro ao peito.
Ana Bessa Martins