Já te sentiste assim, tão só? Tão só nas tuas convicções, tão só e tão contra o mundo? Contra o mundo, porque a tua perspetiva parece ir contra o que no mundo em redor se pratica? As tuas ações, a tua forma de te passeares pela vida? Porque pareces estar ao contrário dos outros, como se estivesses errado? E depois é isso. Parece que estás errado, quando dentro parece tão certo. Essa certeza dentro pode ser tão poderosa, como poderosa pode ser essa solidão de tão diferente ser do mundo. Confusão? Claro. Fosse tudo claro, não seria díspar.
O que fazer então com esse sentimento? De tão só? Desistir e juntar-se ao bando? Deixar a lã preta da ovelha e ser uma amálgama branca de algodão doce? Dói ser um contra o mundo. Dói e sempre vai doer. Como é tentador descansar a alma num rebanho. Parecer encaixar e, de repente, estar tudo em harmonia. Assim tão simples. Rejeitar qualquer necessidade de ser único. De ser, incansavelmente, fiel. Vontade de mandar a própria natureza para um baile de máscaras. Mas, um, só pode ser ele próprio. Ou então, anular-se. Mas, até que ponto, essa aparente harmonia aos olhos do mundo, não se transforma numa tormenta? Pior que a solidão de ser, sempre, leal à natureza intrínseca?
Sábios são os poetas e artistas, que se entregam à dor prazerosa de ser Um. Uno em si. Corente, numa salgalhada que só eles entendem. Mergulhar dentro do próprio mundo e lá restar. Até que ponto vale a pena explicar ao mundo a essência do Eu? De nada. Ou talvez tudo, quando o mundo estiver disposto a escutar cada um. E, a entender, imaginando-se, no outro. Sair do mundo, para ser, por breves instantes, um, só. E aquele, apenas. Até lá, e para sempre, a vida vai ter uma pessoa sempre presente e com quem tens de, obrigatoriamente, te dar com. E de preferência, bem. Tu.
Cecília Pinto