A palavra “intervalo” tem associado um período de tempo que medeia duas atividades ou dois estados. Assim, penso ser oportuno abordar muito sucintamente a autoregulação. A autoregulação refere-se à capacidade, à competência de adotar comportamentos congruentes com os valores individuais. A autoregulação permite acalmarmo-nos quando estamos aborrecidos ou automotivarmo-nos quando estamos tristes.
Quantas vezes sentimos vontade de dizer e fazer algo que seria socialmente, ou até conscientemente, inaceitável? Esta atitude poderia conduzir a um estado de dissonância cognitiva em que o comportamento não estaria em consonância com os valores pessoais e convenções sociais. Este intervalo que medeia esse primeiro impulso perante o estímulo e aquilo que efetivamente fazemos, a resposta, permite a autoregulação. Trata-se do tempo necessário para nos ajustarmos à situação e agirmos. Sabemos que o comportamento pode ser motivado pelas emoções e sentimentos por isso muitas das vezes traduz-se num comportamento inadequado e impulsivo.
As emoções ativam e motivam o comportamento, e o comportamento motivado pode conduzir ao evitamento, à apróximação ou ao ataque. Os sentimentos, por outro lado, expressam uma reação perante uma realidade, são um sinal que possibilita a autoregulação. É uma resposta subjetiva a uma experiência, realidade ou interação.
Não devemos focar a atenção nas emoções nem nos sentimentos porque, sendo instáveis e dinâmicos, podem conduzir-nos a uma avaliação e resposta erradas. Devemos considerá-los na análise mas, antes de mais, será importante tirar um tempo, fazer um intervalo de pelo menos vinte minutos, se possível, para pensarmos, analisarmos factualmente a situação e racionalizarmos no que faz mais sentido fazermos e dizermos, sempre tendo como referência aspetos essenciais como os nossos interesses, objetivos e valores. Que pessoa queremos e gostariamos de ser? A nossa resposta vai refletir isso ou vai traduzir os nossos medos e receios e inseguranças?
O nosso bem-estar emocional depende da autoregulação, da nossa capacidade de controlarmos a impulsividade e de praticarmos a disciplina. O nosso comportamento deve, sempre que possível, estar de acordo com os nossos valores mais íntimos e refletir coerência com as convicções, atitudes e opiniões, adiando a gratificação pessoal inerente à reação e ao momento.
Ana Teixeira