Foto: Despair - Gerd Altmann
Quando vi este tema, disse: ui… é muito difícil escrever sobre dor! Porque será que pensei assim? Vejo a dor de diversos ângulos. As “minhas dores”, as “dores dos outros”, as “dores dos outros” que são também as “minhas dores”, e as “minhas dores” que são também as “dores dos outros”. Depois pensei: mas em que dores estou eu a pensar? Começo, assim, a entrar num campo muito amplo e complexo. Antes de mais, estamos a mover-nos no campo da subjetividade.
Qualquer tipo de dor é subjetivo, mas na vida temos a pretensão de pensar que a “minha dor” é sempre maior que a “dor dos outros”. Como a medimos? Que dor medimos? A dor fisiológica é considerada o 5º sinal vital e mensurável com escalas. Eliminar a dor fisiológica é um dos objetivos primordiais dos profissionais de saúde. Muito bem! Ninguém deve sofrer de dor; não é admissível nos tempos que vamos vivendo. Mas volto à questão inicial que me moveu para este campo da subjetividade: em que dores estou eu a pensar? Pois, pensar em dor leva-nos a pensar em campos escorregadios. Há um tipo de sentimento que dificilmente se explica, que eu, arriscadamente, denomino de “dor mental”. Essa não advém de lesão, mas é tão difícil de suportar! Tentamos explicar o que se sente e parece que só nós a podemos gerir. Não há analgésico que nos valha. Não há escalas que a meçam. Mas ela está lá, num sítio que também não sabemos apontar. Aparece como? Disfunção neurofisiológica? A justificação está sempre na neurofisiologia? Os neurotransmissores são sempre os responsáveis? A neurofisiologia ajuda-nos a perceber muita coisa, mas será que explica todo o tipo de “dor mental”. Se alguém me ajudar a denominar este tipo de sentimento de outra forma, agradeço! Eu sei que ela existe.
Volto ao início: estas “minhas dores” são também as “dores dos outros” e estas “dores dos outros” são também as “minhas dores”? São minhas e dos outros, se forem compreendidas! Entro no paradigma da compreensão para qualquer tipo de dor, o qual permite perceber como a pessoa vivencia as experiências e abandono o paradigma da explicação de natureza causal e mecanicista. Arrisco dizer que, no que diz respeito à compreensão da dor, ainda há um caminho muito longo a percorrer. Desculpem aqueles que compreendem todas as dores e que tudo e o melhor fazem para as aliviar. A estes, um grande bem-haja!
Ermelinda Macedo