”O que queres ser quando fores grande?” é a pergunta levada à exaustão durante a infância. Crescemos, seguimos o nosso caminho, acabamos na faculdade, ou não, mas somos o que queremos ser, a nível profissional?! Temos as ferramentas necessárias para decidir, nessa altura, o caminho que tomaremos, três, cinco anos mais tarde?! Se calhar, não…
Ainda assim, temos, supostamente, o poder da escolha. Mas o estudo nem sempre nos leva à profissão nessa área. O menino que estudou para ser engenheiro, hoje trabalha num restaurante. A menina que estudou para ser jornalista, hoje trabalha numa loja. Empregos, esses, dignos como qualquer outro. Mas o sonho, a vontade, o querer ficou adiado. A profissão, o ofício que desempenha, fica apenas pelo ser, o querer passa para segundo plano. Desempenha-a por obrigação ou por necessidade, porque tem contas para pagar… não por vontade, ou sequer por vocação. É o tem que ser e, como se costuma dizer, o que tem que ser tem muita força. Nos entretantos perde-se a magia, perde-se a realização profissional, porque não há lugar para todos e, às vezes, nem sequer para os melhores. E a pergunta “O que queres ser quando fores grande?” perde a inocência e o entusiamo de outrora, quando se respondia: “Quero ser bombeiro. Quero ser astronauta. Quero ser cabeleireira.” O “quero ser” dá lugar ao “sou”, mas nem sempre com a palavra, ou com a profissão, que gostava que lhe seguisse. Não quer dizer que não dê o melhor na função que desempenha, mas acaba por faltar sempre qualquer coisa: sentir-se preenchido, realizado! No fundo, feliz! E a frustração acaba por ser um sentimento que vai crescendo… “Sou empregado de mesa, porque preciso de pagar contas” e não “Sou empregado de mesa, porque adoro o contacto com as pessoas”. Profissionalmente e, consequentemente, pessoalmente, fica-se pela metade, vive-se nos entretantos… E a pergunta “O que queres ser quando fores grande?” já deixou de fazer sentido.
Sandra Sousa