Foto: New-Year - WSilva
“Como vai ser o teu Natal? E, planos, para a passagem do ano? Tens de ter uma passagem de ano inesquecível! Tens de fazer coisas malucas e entrar com o pé direito no novo ano, a ver se a coisa corre bem.” Ah, os meus amigos, preocupados, esperançosos, depois de um ano particularmente difícil, desejando que eu passasse as festividades num processo de purga e renascimento. Algures ali entre Pompeia e Sodoma e Gomorra. Recebi mil dicas, mil maneiras diferentes de sair de um ano e entrar no outro, para garantir tudo de bom nesse recomeço no calendário. Todas, claro, com a garantia pessoal de sucesso, relatadas na primeira pessoa. “Não sei se funciona contigo mas, olha, comigo, desde que comecei a fazer isto, a minha vida mudou. Completamente. Nunca mais tive um ano de azar. Experimenta, não perdes nada.” Ou, “Anda, vai estar muita gente! Tens é de entrar no novo ano a conhecer malta nova, falar horas a fio, beber e comer, dançar muito, mesmo que não te apeteça. Estar ocupada, é isso, tens de estar ocupada.” Ou ainda, “O meu ritual? Coisinha simples de executar: pões-te em cima de uma cadeira Luís XV, levantas o braço direito a 65º, o esquerdo balanceia suavemente, enquanto o relógio faz a contagem decrescente. A faltar cinquenta e sete segundos para o final do ano, penduras um archote entre o mindinho e o anelar da mão esquerda, suspendes a perna direita em mariposa e cantas uma musiquinha, que te vou cantar a seguir. A bater a meia-noite, com a mão direita, comes as passas, abres o champanhe com toda a classe e desces da cadeira como se o mundo fosse teu, sem nunca largar o archote. E assim se tem um grande ano! É garantido. Fala-te a voz da experiência.” Pois… Talvez. Só vos digo que passei a admirar ainda mais as pessoas: elas sobrevivem a rituais incríveis, ano após ano, em busca da harmonia, do amor, da esperança, da prosperidade, dignos dos maiores acrobatas do planeta.
Passadas as festividades, escrevi, finalmente, aos meus amigos da alma, um texto comum, relatando a minha entrada neste novo ano:
“Meus queridos amigos, o Natal foi um momento de verdadeira partilha, tranquilo e com muito amor. Passei-o com parte da família, com serenidade, com mais alegria pelas presenças à mesa do que tristeza pelas ausências. Feito o balanço, agradeci cada um desses sentimentos, pela paz com que nos brindaram.
A passagem do ano, bom, foi diferente de todas as que já tive na vida. Não fiquem tristes por não a ter passado convosco, apesar dos vários convites que gentilmente me fizeram. Teria sido maravilhoso, estou certa disso, mas este ano, passei-a com alguém também muito especial. Sei que ficarão curiosos mas ainda é cedo para vos contar tudo. Estou a conhecer alguém novo, esperem, corrijo: não é alguém novo mas que vejo agora, pela primeira vez, com “olhos de ver”. Alguém em quem eu nunca tinha reparado devidamente ou dado grande importância, mas que agora sinto, intensamente, debaixo da pele. Parece que foi tudo muito repentino mas, na verdade, já sentia as suas raízes em mim há algum tempo. A terminar o ano, apeteceu-me muito abraçar essa pessoa, cozinhar para ela, partilhar com ela cada minuto daquela noite, mimá-la e escutá-la, de dentro para fora. Que pessoa tão bonita! Como não havia reparado nela antes?
Amigos, não tenho ainda um relato longo para vos fazer mas que se tranquilize o vosso coração: estou bem, feliz e em paz. Entrei em 2017 na melhor das companhias, grata, profundamente grata por um momento verdadeiramente mágico que me encheu de amor e de esperança. E, sim, estou a apaixonar-me perdidamente por esta pessoa. Algo me diz que pode ser a maior das bênçãos: parece ter vindo para ficar.
Gratidão, também a vós, pelo vosso carinho e pela partilha das vossas experiências. Sei que o fizeram de coração, mas permitam-me que vos fale do meu coração. Diz-me a minha experiência que nem sempre as multidões nos fazem esquecer o que dói, nem sempre permitem distrações suficientes para fingirmos que está tudo bem nas nossas vidas e anestesiarmos os sentidos. Fujo dessas multidões como o diabo da cruz: nunca me senti tão só como no meio de muitos outros. Odeio a solidão acompanhada. Odeio quem me lembra que sentir-me só não é, nunca foi, estar só: é estar vazia.
Este ano quero entregar-me, sem medo, a esta pessoa. Quero conhecê-la sem mais delongas. O meu sonho? Gostava que ela se sentisse verdadeiramente amada por mim, tão protegida, tão forte, quanto alguém se possa sentir. Conto com os dias menos fáceis também, com as fragilidades humanas que nos levam a magoar quem mais amamos, mas sei que a quero mais do que alguma vez quis alguém. E, pasmem, descubro agora que ela sempre me esperou. Todos os dias de todos os anos, vividos e por viver. Sem exceção.
Façam figas por mim, amigos, e prometo que, muito em breve, vos ponho a par dos pormenores da maior história de amor da minha vida.”.
Escrevi tudo isto aos meus Amigos e pretendia enviá-lo mas, diz-me também a experiência, que talvez deva guardar para mim, um pouco mais, esta história. Afinal, quem vai realmente entender que passei o Réveillon, feliz, plena, comigo própria?
Alexandra Vaz