Foto: Friends – Lisa Runnels
Fazer caixinha é assim uma espécie de bullying, mas entre adultos. É quando duas ou mais pessoas se juntam em grupinho, isolando uma única pessoa, que fica fora da “caixa” por razão nenhuma que não seja a maldade gratuita.
É um comportamento repleto de crueldade que muitas vezes vemos nas crianças, só que sem ponta de ingenuidade ou da inconsequência que (até) tentamos compreender, e algumas vezes desculpar, nos miúdos. Nos adultos é indesculpável.
É um comportamento quase premeditado, ou em alguns casos menos maldosos, “só” leviano e absurdo. Não é ingénuo porque é consciente e, pior de tudo, consequente.
E deixa marcas. E magoa. E faz sofrer.
É o “não brinco mais contigo” dos grandes. É o “não fales mais com ela/ele” dos adultos.
Quase sempre é protagonizado por um “cabecilha” (que pode usar calças ou saia), e a que nos mais novos chamamos “o líder”, aquele que manda na ganapada e que, ou vai ou delega, o bater ou roubar a sanduíche ao cristo que - lá está - se encontra fora da caixa.
Nunca fui vítima de bullying, em criança. Aliás, nessa idade idiota, onde tantas vezes podia ter subido ao pódio para receber o prémio “miúda-parva-mais-parva-não-há”, talvez tivesse um perfil mais inclinado para “agressora” que para vítima. [Felizmente, ao chegar ao 1º ciclo, apanhei logo umas miúdas mais velhas (ou mais vividas, ou menos parvas), que rapidamente me colocaram no meu lugar].
Anyway, não guardo memória de nenhum episódio marcante com esse nome estrangeiro e feioso, antes boas memórias de quem me ajudou a crescer e a “ter menos a mania”.
Já em adulta, embora pouco marcantes, lembro-me perfeitamente de pelo menos dois momentos em que vivi, e tive que conviver, fora da caixa. Foi meio triste, ainda que as “agressoras” fossem, na sua maioria, tão desinteressantes e vazias de conteúdo que, no fundo, eu tinha a consciência de que não perdia nada. E elas, sim, perdiam muito.
Estes episódios, assim como muitos outros a que tenho assistido ao longo dos anos mas com outras pessoas, fazem de mim, hoje e para sempre, uma caixa-aberta. Como observadora que sou, de quando em vez lá me vou apercebendo, em todas as vertentes da vida, que volta e meia e meia volta, lá aparece alguém com vontade de “minar” relações, afastar pessoas, isolar um(a) qualquer, com quem por um motivo fútil não lhe apraz conviver. Fútil, idiota e maldoso, é quase sempre o (não)motivo.
Assim que o meu radar os deteta, abro a minha caixa e tento alargá-la a todos. O mais possível. De preferência, agarrando os elementos já “minados” ou infetados pelo vírus da crueldade e da estupidez, que é ser mau só por ser.
Por isso, digo sempre aos meus amigos: em momento nenhum contém comigo para “fazer caixinha”.
Porque eu sou uma pick-up, uma “caixa-aberta” e nunca, por nunca, compactuarei com o “não brinques mais com ela/ele”, só porque sim.
Joana Pouzada