Foto: Beauty - Chí Nguyen Quoc
Ultimamente, tenho visto, com interesse, uma série que no seu fundamental foca a experiência da moralidade humana. Evidentemente que, para ter audiência, veste-se o tema com humor, satirizando a triste realidade da finitude da nossa estadia por estes lados e a expetativa de se ter (ou não) uma recompensa “pelos bons serviços prestados”. Em resumo: ser “bom” ou ser “mau” durante a vida determinará uma recompensa ou um castigo eterno. Soa familiar, certo?
Ora, cheio de lugares comuns, como podem imaginar, está o argumento. Conceitos como o livre arbítrio, as escolhas pessoais, os modelos seguidos e, claro, a força de vontade. Força de vontade para, depois de vividos e instruídos, agirmos em consonância com a nossa consciência e com as leis / regras / ética / costumes / moralidade do contexto em que vivemos.
Em princípio, aqui residiria a fórmula para a etiquetagem da “boa pessoa”. Claro que isto assim posto, de forma tão redutora, sem os constrangimentos e exigências de um texto que “altere o mundo”, leva à conclusão da seguinte causa-efeito: “se queres ser um tipo às direitas (e até merecedor de um paraíso, se essa for a tua convicção), basta teres força de vontade”.
É claro que isto não chega. É claro que não é suficiente. Porventura, se não contássemos com a instabilidade inerente ao ser humano, em que “um dia é uma coisa e noutro dia é outra”, poderíamos ter esperança num movimento em contínuo, no sentido da elevação do ser e (porque não?) do espírito. Mas não somos assim e todos o sabemos. É também certo (e ainda bem), que “uma má atitude, não faz de mim má pessoa”, abrindo-se assim um buraco negro descomunal que nos conforta a consciência de cada vez que nos atraiçoamos.
Porque sim, desengane-se quem pense que o maior prejudicado nessas situações será um qualquer terceiro, vítima da nossa ação. Se o pensamento sobre o facto se evadir, se as noites forem bem dormidas, se o humor for o melhor, assim como o apetite, podes ter a certeza que o teu “grilo falante” não está a fazer bem o seu trabalho. Mas lá está, se calhar a culpa é dele e nunca tua. Força para se encontrar bodes expiatórios, é coisa que nunca falta.
Rui Duarte