Foto: Martin-Luther-King - Skeeze
Grita-se por tudo e por nada e, literalmente, até podemos considerar uma forma de expressão. Pode-se viver a vida gritando como forma de se fazer notar, ou para impor-se autoritariamente. Não é um estilo, mas sim uma doença. É muito aborrecido ser-se invisível! Ir ao futebol e não gritar contra o árbitro é sinal de doença! Ir a uma manifestação e não gritar é quase o mesmo que não estar! Mas pensar nas grandes tragédias humanas no último século sem se revoltar é de uma grande ignorância.
Atualmente o Homem é marcado por acontecimentos para os quais se convoca a nossa atenção e, sobretudo, a nossa atitude. Pensar na guerra da Síria, no terrorismo, na fome, na doença e ficar indiferente é atroz. O homem está a deixar-se conduzir pelos egoísmos, pela xenofobia e pelo racismo, pela ameaça e intimidação, pelos apelos ao medo e à insegurança, pela injustiça. E consentimos aplaudindo. Não nos apercebemos que a seguir vêm os muros, as censuras, as violências, as exclusões, as prisões e, em última análise, as ditaduras.
Tornarmo-nos invisíveis perante os acontecimentos é tornar desumano o nosso comportamento e atitude face ao semelhante. Ter de deixar de ser politicamente correto, de deixar de ser condescendente com os abusos e falta de solidariedade, obriga a gritar, a berrar contra tudo o que aflige e incomoda o silêncio dos corações. Obriga a atuar, a existir e a abandonar o conforto e o comodismo do “sofá”.
Deixe-se de fingimentos, abandone a hipocrisia, cure-se dessa cegueira. Mude, mostre-se, discuta, grite, torne-se visível pelas causas nobres que nos afligem, nesta que é a nossa casa comum. Abandone o sofá e pense com Martin Luther King: “O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons”. E isto dói…
Fernando Lima