24.6.19

Censorship - Dimitris Vetsikas.jpg

Foto: Freedom of speech - OpenClipart-Vectors

 

“Não fui eu, pai! Já estava partido!”, “As notas ainda não saíram…” ou a ignorante convicção que se poderia escapar com uma mentira. É certo que os tempos eram outros (como pareço um velho) e os modelos parentais eram diferentes, mas na minha infância (e na maioria da dos meus amigos) a (des)honestidade encostava-se, frequentemente, no medo. Medo da estalada, da colher de pau ou, na melhor das hipóteses, do simples castigo que nos levava a pensar (muito para dentro) “safei-me desta”.

Não discuto se tais modelos parentais mais “rigorosos” ou “físicos” eram melhores ou piores. Como talvez tudo na existência das coisas, existem lados positivos e lados negativos. Salve-se o equilíbrio. Bem, certo é que isto mudou. Observando a comunicação humana próxima da minha realidade, considero que estamos menos honestos. Atualmente somos aliciados diariamente com o “politicamente correto”, não atendendo contudo ao facto de que não houve (nem seria possível haver) uma evolução tão rápida no pensamento individual e por consequência à escala social, que acompanhasse esta “tendência” tão recente. No suposto tempo da liberdade, dignidade, reconhecimento, expressão, diferença, igualdade, inclusão, diversidade, aceitação, reparação, compensação, migração, multiculturalidade, direitos e sei lá mais o quê, na verdade pouco se aceita o pensamento / expressão que diverge da visão em túnel do que deve ser dito ou pensado, logo o que DEVE SER.

 

Ressalva muito importante: nenhum extremismo (mas extremismo mesmo – não daquele tipo “fiquei tão ofendido” e de qualquer espécie) deve ser tolerado!

Contudo, cada vez mais se aceita e estimula uma “honestidade” em linha com ideias supostamente “avançadas culturalmente” ou vendidas noutro embrulho qualquer. No fundo, clichés (porque carecem de autocrítica) que são expostos, quando na verdade pouco tempo gastamos em confrontar o que dizemos com o que pensamos entre as paredes do nosso crânio.

Quanto internamente honestos somos em relação às minorias étnicas e religiosas, ao conceito de “apropriação cultural”, à migração, à “linguagem inclusiva” (aquela que em vez de se escrever todos, escreve-se todos e todas, ou pior tod@s), à política de direita, aos “subsídio-dependentes”, à utilização de certas drogas ou utilização de algumas expressões (mal) identificativas da raça, do género ou orientação sexual? Quantas vezes defendemos um determinado ideal, uma determinada pessoa, uma determinada opinião, um determinado acontecimento, para depois, pouco mais tarde, nos rirmos de uma piada qua ataca o que acabamos de defender? Ou quantas vezes mudamos o norte se o acontecimento em causa nos tocou pessoalmente?

Continuamos a jogar com o medo… Medo que descubram o que realmente está por dentro e que não pode ser mostrado para fora. E assim estamos a ser desonestos. Primariamente connosco e depois com os outros e com o mundo. E se às vezes, por isso mesmo, e por pensarmos “o que não deveria ser pensado”, mereceríamos uma chapada bem dada, noutras vezes deveria ser-nos permitido dizer com honestidade o que acreditamos, sem sermos rotulados da mesma forma depreciativa e limitadora da liberdade individual.

 

Rui Duarte

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 07:30  Comentar

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