Foto: Foucault's Pendulum – Andrew Schmidt
Dos medos, de todos eles, já nestas páginas se falou muito, e muito bem. Eu tive e tenho muitos medos que nunca se concretizaram e, muito provavelmente, nunca se concretizarão; outros, pela certa, sim, lá virão a plasmar-se em realidade, na minha realidade. Mas os verdadeiros medos, os piores, os que já me passaram por cima e me viraram do avesso e quase me levaram a melhor, bem como os que aí hão de ainda vir... nunca tenho imaginação à sua altura.
O medo é uma faca de dois gumes, ambos bem afiados: com ele paralisamos, sem ele morremos. Ou por fora, ou por dentro, ou das duas maneiras.
É, por exemplo, por isso que há terrorismo, para nos paralisar e aturdir, para nos tirar rumos e objetividades. Para nos fazer odiar quem estiver mais a jeito. Para nos impedir de evoluir, de expandir a mente, de sermos inclusivos, de termos no coração sempre o calor do amor, puro e desinteressado. De nos guiarmos por esse coração, mesmo correndo riscos.
O medo impede-nos de ser a melhor versão possível de nós próprios.
Mas podemos, ousamos viver sem medo? O medo também nos salva. Salvou-nos nas cavernas de sermos comidos por animais maiores. Hoje, em sentido normalmente não tão literal, faz a mesma coisa. Salva-nos de esquecermos os nossos amores; salva-nos de esquecermos os nossos objetivos. Dá-nos rumo e chão e pode ser um bom companheiro de viagem desde que devidamente domesticado.
Jean Bernard Foucault pendurou um longo e pesado pêndulo no Panthéon, em Paris, no já longínquo ano de 1851. Destinava-se a comprovar, através do seu movimento de oscilação, o movimento de rotação da Terra em torno de seu próprio eixo.
A expetativa era que o pêndulo oscilasse em um movimento retilíneo em um único plano vertical. No entanto, o que foi observado, foi que a oscilação do pêndulo parecia girar com o tempo, mudando a sua direção em relação a esse plano considerado. O medo é assim, um pêndulo a oscilar sobre as nossas vidas.
Quando o pêndulo é colocado em movimento, pelas Leis de Newton, a oscilação depende somente da força gravitacional, da tração do fio e da resistência do ar, que faz diminuir a amplitude das oscilações com o passar do tempo. Nenhuma outra força age para explicar a mudança de direção da oscilação do pêndulo. Em Paris, a rotação é medida em cerca de 10° por hora, no sentido horário.
Mas, se não há nenhuma força atuando no pêndulo para que mude a direção da oscilação, por que o pêndulo gira? Na verdade, o pêndulo não gira. O plano de oscilação do pêndulo permanece constante. Nós, os observadores, temos a impressão de que o pêndulo gira, por que estamos “presos” à Terra.
Nós, cada um de nós, tem pois o seu próprio pêndulo do medo a girar tanto tempo quanto dure a nossa existência. O truque é sabermos que temos uma espécie de pêndulo de Foucault pessoal, cuja rotação depende da nossa rotação e só existe porque nós existimos. O nosso medo é pois algo que devemos amar e respeitar, mas de longe. E nunca, mas mesmo nunca, colocarmo-nos na sua trajetória. É mais um “compagnon de route”, o nosso querido grilinho falante.
Laura Palmer