Foto: Baby Incubator – Isabel Vanzieleghem
Testemunho, com alguma frequência, pessoas a vivenciarem uma transição de saúde-doença. Se por um lado a doença assusta, destruindo caminhos já muito determinados e formas de lidar com acontecimentos da vida, por outro, pode levar a que as pessoas acionam a sua criatividade para lidarem com ela. É o poder criativo da doença. Descobrem-se poderes latentes, nunca previstos, e a vida transforma-se num modo inimaginável. Oliver Sackes, no seu livro Um antropólogo em marte, chama-lhe o “paradoxo da doença”. Estas pessoas que acionam a criatividade fazem e refazem, pensam e repensam, formulam e reformulam vezes sem conta. Não sei se se surpreendem com elas próprias, mas sinto que surpreendem os outros. Reaprenderam a viver; agora vivem com a sua doença.
Testemunho com alguma frequência pessoas que passam a cuidar de outras em situações difíceis e vivenciam também, por isso, uma transição. Da mesma forma, cuidar de alguém em situações difíceis pode, por um lado, destruir caminhos de quem cuida e, por outro, pode fazer com que o cuidador acione a sua criatividade para cuidar. É o poder criativo e, da mesma forma, paradoxal do cuidador, diga-se, cuidador informal; o cuidador familiar. Estes cuidadores que cuidam de pessoas em situações difíceis, fazem e refazem, pensam e repensam, formulam e reformulam vezes sem conta. Os que vão observando “de fora” questionam como se consegue tal desempenho. Não sei se estes cuidadores têm tempo para se surpreenderem, mas sinto que surpreendem os outros. Reaprenderam a viver; agora vivem com os seu(s) doente(s); com o(s) seu(s) familiar(es).
William Osler (Sackes, 1995) diz: “Não pergunte que doença a pessoa tem, mas antes que pessoa a doença tem”. E, porque o cuidador tem o poder de poder ajudar, eu diria “Não pergunte que doente o cuidador tem, mas que cuidador o doente tem”.
Ermelinda Macedo