Foto: Alzheimer Portraits #38 – Alex Ten Napel
Pele enrugada, olhar perdido, o vazio, a sensação de confusão e de embaraço que transparecem pelos trejeitos do corpo, a expressão de desconhecido expressa no rosto…
Diz-se que nós somos as nossas experiências. Por outras palavras, “toda a nossa experiência é dedicada ao desenvolvimento da nossa personalidade”. Quem o afirmou foi Alex Ten Napel.
Alex é um fotógrafo holandês que retratou 40 idosos, de uma residência sénior, que padecem da doença de Alzheimer. No seu ensaio fotográfico procurou mostrar a sensação de “esvaimento” e de desaparecimento espelhada nos rostos dessas pessoas. Retratada não estava apenas a perda da memória em si, mas também a progressiva falta de dignidade e o que significa viver nesta condição.
“O que nos resta sem a memória da experiência?”
“Todos nós conhecemos sentimentos de tristeza, medo, desespero, depressão, alegria e as pessoas com Alzheimer sentem tudo isso da mesma maneira”, explica o fotógrafo holandês. No entanto, a principal diferença é que o registo dessas emoções ou experiências não perdura. A doença de Alzheimer destrói o ser interior: personalidade, emoções, sentimentos, experiências, memórias.
“O confronto com pessoas que sofrem de demência é assustador, porque nos faz questionar a nossa própria vida. Elas mostram-nos que a nossa vida pode evoluir num sentido diferente daquele que esperamos”. A doença do esquecimento acaba por afetar não só o doente, mas também cuidadores, familiares e amigos, que assistem ao desaparecimento interior do ser, apesar da sua permanência física.
Há uma frase de Alex Ten Napel que resume, e bem, o ensaio fotográfico a que se propôs: “A doença de Alzheimer limita-se a mostrar-nos a existência humana sem qualquer adereço”.
Sandra Sousa