Foto: Green Alarm Clock – George Hodan
Há muito tempo (ou talvez há não tanto tempo assim), pensava que o tempo era insignificante. A idade adulta estava longe e a velhice era uma miragem. Tudo o que me fazia lembrar a existência do tempo era o despertar, pois daria tudo por mais duas horas a dormir e os minutos que faltavam para a campainha tocar no secundário. Mas o tempo ensina que ter tempo é um presente. O mais valioso dos presentes. Não existe bem algum que nos dê mais uma inspiração quando chega a hora de partir.
Hoje já sinto o tempo. E já não acho que seja traiçoeiro. Nem inimigo. Nem rápido. Nem lento… O tempo é o meu companheiro de viagem… Espelha o que sou, lima as arestas, diz-me como caminhar, ora dando passadas rápidas, ora dando passadas vagarosas. Às vezes obriga-me a parar… Também me ajuda a esquecer e a rir-me do passado, ajuda a colocar todos os acontecimentos em perspetiva. Leva-me a aceitar o inaceitável e é um bálsamo para a dor. O tempo é a minha bolha nesta existência. Permitiu-me estar aqui e vai levar-me um dia para um lugar sem tempo… E por ser tão intimo meu, não o posso deter com as mãos. Porque eu sou o tempo! E o tempo de existir é o agora.
Sara Almeida