Foto: Child - Edgar Marques
Era aquela criança que me aproximava daqueles que andavam sempre sozinhos. Que via no olhar deles a infelicidade e a solidão. Que repreendia quem os maltratava, mesmo sem ser violência física. Por vezes, as palavras são mais severas e têm um impacto maior.
Fui crescendo e vi que, infelizmente, essas pessoas existem num número maior do que aquele que desejava ver. Mas não conseguia amparar nem falar com todos os que se sentiam sós. Apenas alguns.
Apercebi-me também que, a determinada altura, até eu estava emaranhada na teia de alguém que se dizia ser, que dizia acontecer, que podíamos ir e alcançar. Fui, feliz, de mão dada com o vento. Até a chuva cair, até o próprio chão desaparecer. Até deixar que me pisassem e pensar. Por vezes somos tão ingénuos, tão honestos, demais ao que parece. Que quando damos conta, estamos rodeados do mal, rodeados de invejas.
Quando pensamos que um sorriso é verdadeiro, temos de observar mais do que um mero sorriso. Ir mais além, para o nosso próprio bem. E daqueles que nos rodeiam. Até onde vai a maldade das pessoas? Até onde conseguem ir? Aqueles valores que nos ensinam, que nos tentam incutir para sermos melhores seres humanos. Para ajudarmos o próximo. E nós? Que confiamos em palavras bonitas, sorrisos falsos ao que parece. Quando damos de nós e se aproveitam amargamente da nossa bondade e fragilidade. Estaremos seguros neste mundo desonesto? O que acontecerá a todas as pessoas que são como nós? Que traz de bom a essas pessoas pisar os outros? A glória de fazer mal? Isso deixa-os felizes? Se sim... estamos perdidos. Ser ou não ser?
Inês Ramos