7.9.10

 

15 anos… Sonhos não encontrados, e mais tarde sonhos desestruturados.
Na altura de encontrar rumo, um caminho, o concretizar de um sonho, obter uma profissão e o contributo social, de tanta importância, apercebemo-nos que só isso não chega…
E eis que chega mais um papel, o ser mãe, que nunca estamos preparadas para o ser, mas que nos enche de coragem para tal.
 
Mas afinal o que é esse ser?
Ser mulher e ser mãe, ou ser homem e ser pai, é muito mais que ter direitos, é principalmente ter deveres e responsabilidades parentais que por vezes são esquecidos, abandonados.
A responsabilidade e o sentimento de colocar uma criança no mundo não é indiferente a ninguém, nem para o adolescente mais irreverente do mundo e é sinónimo do poder que o desencadear de uma nova vida pode trazer. Os filhos ensinam a ver a vida de outra forma. Começa-se a ter mais cuidado com a segurança, com a alimentação, e os problemas de educação, que até à data não mereciam muito interesse, são o grande quebra-cabeças do dia-a-dia.
A criança devolve, também, emoções afectivas puras, que qualquer pessoa possui no seu interior e sem qualquer interesse por trás. Rir, sorrir, sentir, começam a fazer parte do universo dos pais. Descobre-se, novamente, o conceito de surpresa. A imprevisibilidade dos actos das crianças faz brotar um sentimento diferente nas reacções dos pais, perante as novidades que se lhes deparam.
A necessidade de uma melhor qualidade e futuro de vida é também uma necessidade para os pais, que desejam para os seus filhos um mundo melhor do que aquele no qual são protagonistas. Na realidade, trazer uma nova vida ao mundo faz desenvolver o lado humano, nem sempre presente ou visível no nosso quotidiano.
A maneira como se encaram as coisas e a forma como as mesmas se sentem, passam por uma ternura e compreensão tais que só é possível senti-las dessa forma quando se é mãe. Se já possui esse nobre estatuto, os nossos Parabéns, pois certamente já aprendeu muito sobre os laços humanos da vida.
 
Contribuir para o desenvolvimento da criança e a sua educação não é tarefa das instituições de ensino, temos que pensar, que é nossa tarefa, e a todos os níveis.
Lembremo-nos que quem compra um piano não passa a ser pianista, mas quem tem um filho passa a ser mãe, e pai…
 

Sónia Sequeira

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 00:05  Comentar

22.1.10


 


Do ponto de vista da parentalidade, a família tem a eminente função de proteger, educar e inserir a criança na cultura de pertença. Mas também tem um estatuto simbólico, cuja utilidade é a de estruturar os valores que regem a conduta do educando nos diversos papéis que o esperam na vida em sociedade. Essa estruturação simbólica vai sendo apreendida no convívio lá de casa, entranhando-se lentamente e moldando a forma como a pessoa se assume como filho, irmão, aluno, colega, amigo, cônjuge, pai, funcionário, patrão, elemento de equipa, ou cidadão.

 

Sobre esta questão pesa muito a configuração da família. A configuração ocidental tradicional é uma fórmula de sucesso que se manteve firme durante muito tempo. Mas assistimos a tempos de mudança e esse paradigma está a abrir espaços para novas configurações. Por exemplo, o reposicionamento da criança no seio familiar, deslocando-a para o centro, onde as suas particularidades podem ser alvo de constante preocupação, monitorização e imediata satisfação; os avós são cada vez menos agentes educativos; e a conjugalidade assume modos renovados de privatização.

 

A centralização da criança, estratégia educativa povoada de virtudes e que contraria as correntes saudosistas do “brinca na rua”, aumenta a probabilidade dela chegar à vida adulta com a qualidade que é exigível pela modernidade. Mas como estamos em processo de transição é natural que se observem erros de ajustamento: não é possível passar do “brinca na rua” para o “brinca se estiver desinfectado” sem conviver com alguns danos colaterais. Enquanto não se afina a máquina educativa parece haver necessidade de escolher entre criar uma “septicemia” ou um “pequeno ditador”. As escolas são o sumo concentrado destas frutas variadas. É nelas que os agentes educativos se vêem a braços com as múltiplas origens dos seus alunos e, pelo que me é dado a entender, continua a ser mais fácil lidar com a “septicemia”.

 

Os avós estão praticamente arredados do crescimento dos netos. Não só pelo enorme fosso tecnológico que os separa, como pelo total desinteresse das novas gerações pelas brincadeiras que outrora entusiasmavam e usavam da energia que tinha que ser libertada. A recente organização económico-social veio reestruturar a família e, neste período de transição, os mais velhos permanecem numa sombria prateleira, privados de legar os seus ensinamentos aos mais novos.

 

Quanto mais privada for a conjugalidade, mais pública se torna a parentalidade. Se o estilo conjugal é heterossexual, homossexual, bissexual, multissexual, celibatário ou qualquer outro, esse é um assunto que pertence apenas aos seus actores. No entanto, a regulação da parentalidade é cada vez mais feita por agentes externos para garantir que o crescimento “saudável” da criança se faça independentemente do estilo conjugal. Mas esta regulação tem fendas e, mais cedo ou mais tarde, dar-se-á conta de que não se pode substituir aos educadores familiares. É que a educação sem nomeação é um trabalho incompleto. Pai e mãe não são anónimos: têm a força simbólica do essencial para a plena integração da criança na sociedade. Representam os diferentes valores que, devidamente conjugados, colocam na comunidade mais um elemento activo na construção do desenvolvimento harmónico colectivo. Que as novas configurações de família consigam fazer mais e melhor!

 

Smith


 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 15:30  Ver comentários (4) Comentar


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