Passamos a vida a planear, desde que nascemos até morrer. Planeamos, ou somos planeados, pelo menos à nascença, que a concepção do nosso futuro ser pode ser, como não ser planeada.
Planeamos, planeamos, mas raramente o resultado é como planeado. São planos para vida, planos de estudos, planos de carreiras, planos de poupança, planos de férias, planos de casamento. A vida é em si um plano. Sonhamos, enquanto planeamos, mas são sonhos objectivos. Todos os pormenores estão incluídos, todo o processo, até o resultado, é planeado. Depois descemos ao nível do real e há sempre um pormenor que faltou, um imprevisto, e a realidade é um pouco diferente do que planeamos. Mas é mesmo para isso que servem os planos, essa necessidade de dar estrutura à nossa experiência, ao nosso ser, essa sensação de controlo e segurança. De estrutura. Mas, como todas as estruturas, nada é inalterável. Porque tudo se transforma, mesmo que sem comprometer a base, mas acabam por se moldar arestas, alterando a forma, do inicial. Há sempre desvios.
A vida é um plano, mas controlar imprevistos não faz parte do plano. Eles simplesmente acontecem. E aí surge o plano B. Porque normalizar é também uma necessidade de estrutura, ou, por assim dizer, necessidade de combater a desestruturação que nos arrasta para o fundo. E como sobreviver, ou como reconstruir, quando chegamos ao zero e dali temos de partir novamente, numa constante reconstrução de nós?
Pois é, cresci a sentir que tudo muda, muito mais rápido do que se pensa. Desde pequena tive a sensação que o tempo passava rápido e com ele passavam todas as fases. Só me restava acompanhar o ritmo, porque o tempo não anda para trás, nem espera por nós. Ouvi, também desde sempre, que antes de mim, na geração anterior, tudo era mais duradoiro, as relações, as carreiras, havia uma pessoa para toda a vida e um emprego para toda a vida. Mas percebi logo, quando passei a entender melhor o mundo, que hoje a constância é a mudança. E daí, surge a capacidade de nos adaptarmos, constantemente. E às vezes, quando nos falta o chão, temos de ser rápidos a saltar para não cair no abismo. Este jogo de cintura, não nos torna mais descartáveis, torna-nos mais capazes de não dar o plano como garantido, persistindo no entanto a fome de um plano seguro, uma estrutura que aguente, independentemente das tempestades.
Hoje, não há plano B. Há plano C, D, E, F… Deixei de planear em grande porque me apercebi que há muitas variáveis no jogo que não dependem só de mim. Há acidentes, crises, doenças, como há lotarias, sorte (não na mesma proporção!), mas continua a haver a necessidade de planear, pelo menos a curto prazo. Haverá, sempre capacidade de recomeçar, pelo menos enquanto houver a visão dum plano melhor.
Cecília Pinto
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