23.2.10


 


- Foram quase dois anos de luta intensa, mas posso dizer que ganhou; por isso está de parabéns! Compreendo que não se sinta capaz de voltar à sua vida normal, mas esse é o passo seguinte – e tem de o dar. É agora necessário e importante retomar as actividades, as responsabilidades, o trabalho. Deverá fazê-lo com calma, mas com determinação. Tudo irá correr bem.

 

Foi isto que ele disse e eu concordei com ele. Mas na prática… bom, na prática até sentia vontade de voltar à “normalidade”, mas parecia-me tratar-se dum esforço demasiado. Sabia que a minha família apoiaria.

É certo que começando, uma coisa leva à outra, mas o que mais receava era a reacção dos meus colegas de trabalho. Receava que começassem a vir um após outro, como vespas à volta do mel, fazer perguntas, saber detalhes, satisfazer curiosidades, procurar entrelinhas onde ler como de facto eu estava, mostrar falsos interesses, fazer falsos sorrisos, simular preocupação, carinho e disponibilidade, apenas para ficarem bem no retrato tirado por uma câmara que apenas existe na imaginação deles. Iria ser tão cansativo!… E seria alvo dos mais diversos juízos de valor, certamente vista com olhos de pena, de comiseração, de coitadinha pelo meu infortúnio. Como se eu tivesse algum exclusivo – mas é sempre bom pensar que as coisas apenas acontecem aos outros, o que acaba sempre por nos tranquilizar. Mas o lugar dos outros acaba sempre por ser também nosso e isso, eu tinha acabado de aprender. Talvez algum se mostrasse indiferente; pelo menos esse não me aborreceria, poupando-me à infindável repetição dos dois últimos anos da minha existência. Mas essa indiferença, não me magoaria?

Certo é que ficaria exposta, muito exposta, pelo menos durante algum tempo – demasiado tempo.

 

A exposição era, e é, vista por mim de forma traumática desde que a D. Aurora, a minha professora de quarta classe pediu aquela redacção sobre a “solidariedade”. Mas que raio de palavra era aquela!? Que raio quereria ela significar? E sem procurar saber, inventei. E como inventei… E como chorei… Ainda sinto como cruel a leitura que ela fez, em voz alta, da minha invenção. Ainda vejo e ouço, bem altos, os risos.

Não, não gosto de exposição, não gosto de ser o centro das atenções, sobretudo por más razões.

 

Mas quando voltei ao trabalho, frágil, sem qualquer couraça protectora e esperando o pior, fui surpreendida – muito surpreendida. Não apareceram os olhares, os interrogatórios, as atitudes que tanto receava. Em seu lugar houve simples cumprimentos, manifestações de agrado pelo meu regresso, que senti genuínas e sinceras, e uma vontade espontânea de me informarem das alterações, dos novos procedimentos, de me ajudarem a recuperar o meu lugar, a sentir-me bem, desejada e acolhida, de me integrarem. Senti os meus colegas solidários comigo – agora que já sei o que “solidariedade” quer dizer.

 

FCC


 

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16.2.10


 


Sinceramente, na vida, quem não gostaria que todos à sua volta fossem sinceros? Todos, ou alguns, têm esse desejo de saber a verdade a qualquer custo, nem que seja para sentir que têm tudo sob controlo… que nada lhes escapa... que nada os derruba de antemão.

A sinceridade não é um valor dos nossos dias, talvez nunca tenha sido... a sinceridade é uma aspiração... é uma aspiração por nós próprios, porque queremos ser sinceros, honestos e nos identificamos como tal... mas, por mais adoradores da verdade que sejamos, nem sempre correspondemos à nossa aspiração. Porque por vezes temos medo, medo do que os outros vão pensar sobre uma acção nossa, um sentimento, ou um pensamento… medo que o outro nos deixe porque lhe fomos infiéis, medo de que nos despeçam porque não concordamos com as ideias e escrúpulos do chefe, medo que nos olhem de lado porque temos uma certa doença. Tantos medos... e por causa destes nos enrolamos num nó de mentiras... e depois é tão difícil sair. Aí olhámo-nos ao espelho e não reconhecemos aquela pessoa honesta que pensávamos ser, só vemos uma mentira e pensamos que toda a nossa vida é uma mentira, pensamos até que mentir a esta ou àquela pessoa é estar a poupá-la de um sofrimento maior... e a mentira sufoca-nos, tira-nos o riso da alma, alimenta a culpa, afasta-nos dos outros, mas sobretudo afasta-nos de nós próprios... por vezes, sermos sinceros connosco próprios é o mais difícil. Alguém disse que a verdade nos liberta… e é bem verdade... quem não sentiu já um alívio depois de contar uma verdade escondida? O peso esvai-se, a coragem de olhar nos olhos aparece e a alma fica mais leve… é preciso dar um passo gigante de coragem, quando a mentira já é maior do que nós, mas vale a pena! Apesar deste alívio, acarreta sempre dor, dela não escapamos, mas talvez seja mais fácil de lidar com essa dor na verdade do que na mentira... houve também alguém que disse que a verdade dói, mas não deixa ferida… Talvez por isso e com o tempo que vai passando, a sinceridade venha a ser um melhor aliado nas nossas vidas… e apesar do medo que por vezes a sinceridade pura acarrete, de certeza que seremos mais felizes e menos sós se nos fizermos acompanhar desta…

 

Cecília Pinto


 

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9.2.10


 


Não obstante as diversas acepções que foram sendo atribuídas ao conceito de “justiça”, há duas fundamentais: uma objectiva e outra subjectiva.

A primeira refere-se ao momento em que a justiça é empregue para designar uma qualidade da ordem social, especialmente quando se trata de considerar uma lei ou instituição como justas. Trata-se de um princípio superior da Ordem Social.

Quanto à acepção subjectiva, esta trata a justiça como qualidade da pessoa -  aqui, a justiça é vista como uma virtude, ou um conjunto de virtudes, incluindo em si a prudência, a temperança, a coragem e outras.

Apesar de na actualidade ser a acepção objectiva da justiça que é a largamente utilizada na linguagem jurídica, a justiça como virtude não contrapõe esta acepção, pelo contrário, são dois aspectos da mesma realidade.

Sendo certo que ao longo da história há toda uma tradição filosófica, ética, jurídica e religiosa de tratamento da justiça no sentido subjectivo e pessoal.

 

Na antiguidade clássica, Aristóteles já considerava a justiça como hábito. Na sua teoria refere que ao Homem não basta conhecer em abstracto, ou teoricamente, o conteúdo da virtude, sendo de maior valia a actualização prática e a realização da virtude. O Homem apenas tem a capacidade de discernir entre o justo e o injusto, de optar pela realização de acções conformes a um ou a outro e a virtude, assim como o vício, adquire-se pelo hábito.

Tendo em conta os rios de tinta que já foram gastos ao longo de séculos sobre esta temática, pode, em suma, dizer-se que, como o direito, a justiça não se mostra como uma simples técnica da igualdade ou da ordem social. Ela é a virtude da convivência humana, traduzindo-se, fundamentalmente, numa atitude subjectiva de respeito pela dignidade de todos os Homens. Justo é aquele que reconhece o dever de respeitar o bem e a dignidade de todos.

A justiça, nesse prisma, pode não coincidir com o que cada um considera o seu próprio bem-estar ou felicidade.

 

Teresa Paupério


 

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2.2.10

 


 


Há almas que são natural e constantemente boas, ou seja, bondosas. Como a palavra indica, quase só têm sementes do bem dentro dos seus corações. Não quero com isto dizer que também existam almas que só sabem utilizar a maldade... Digamos que essas são almas sofridas...

A bondade é espalhada por aqueles que amam, que não pensam só em si, mas também nos outros, por aqueles para quem a felicidade só pode ser completa com o acto de dar: dar afectos, dar palavras de consolo, dar um olhar de preocupação, dar um prato de sopa, dar um abraço... enfim... dar uma semente que possa desabrochar em sorriso e esperança.

 

Não resisto a colocar aqui um excerto de uma grande obra – O Principezinho, de Exupéry: “Este homem é bem capaz de ser disparatado. Mas é bem menos disparatado do que o rei, do que o vaidoso, do que o homem de negócios e do que o bêbedo. Ao menos o trabalho dele tem um sentido. Quando acende o candeeiro, é como se fizesse nascer uma estrela.” É assim que considero uma pessoa bondosa no nosso mundo: um acendedor de candeeiros, ou de estrelas, um agricultor de sementes de esperança e felicidade, uma pessoa com o dom de fazer do outro um ser humano único e especial, porque foi notado, porque foi olhado, porque foi amado.

 

Ana Lua


 

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De repente, seu homem disse que quer se divorciar ...
O tempo, a arbitrariedade da vida e as fragilidade...
Obrigado SAPO.AO!!
E claro que é no "Cenas na net" mas este na homepa...
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