18.11.15

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Não sou medricas, mas tenho medos. Medos patéticos que não me condicionam, medos compreensíveis se o que está em causa é o desconhecido e medos necessários porque me defendem de consequências que podem pôr em risco a minha segurança. Mas o medo de todos os medos, o que mais me horroriza, é o da separação. Tenho medo, muito medo, de perder definitivamente aqueles que amo. Não consigo a elevação necessária e suficiente para me contentar com a ideia de que um dia, talvez, nos voltaremos a encontrar. Preciso de sentir a presença deles, de vê-los, de povoar o meu pensamento com imagens.

Acontece, por vezes, que essa necessidade é tão imperiosa que o meu inconsciente me defende levando-me a sentir e a ver pessoas de quem me separei. Acontece das mais diversas formas mas, com frequência, acontece-me sonhar com elas.

 

E é em sonhos que muitas vezes a revejo e mato saudades. Nunca dou pela sua chegada, vejo-a simplesmente. Ali permanece em silêncio sem outro propósito que não seja o de velar o meu sono. Está à vontade, com a naturalidade de quem pertence àquele lugar e de onde parece nunca ter saído. Vejo-lhe o rosto, o mesmo rosto que serviu de tela ao tempo que lhe desenhou toda uma vida em riscos profundos e lhe matizou os cabelos de cinzento e branco. Mas está tão igual a ela própria, tão familiar, que a sua presença não me intriga ou surpreende. Fico feliz por a ter junto a mim.

Não fala, nunca foi de muitas falas, mas sorri para mim. Um sorriso tranquilo de quem sabe amar e não cobrar por esse amor, capacidade que os ascendentes nos ensinam mas que nem sempre aprendemos, ou tardamos em aprender. Quero agradecer-lhe e retribuir esse amor num abraço até à eternidade. Estendo os braços mas o contacto com o seu corpo tarda. Abro os olhos. À minha volta um vazio de morte e o único medo que sinto é que esse seja o nosso último encontro.

 

Cidália Carvalho

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 08:00  Comentar

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